Anos Finais do
Ensino Fundamental
O que a trajetória de adolescentes negros na escola e na vida pode nos revelar sobre como as desigualdades raciais se manifestam?
O Mapa de Dados está — e estará — em constante construção porque ele não foi feito para representar uma fotografia estanque, mas sim algo dinâmico.
Vem com a gente!
Descubra como os dados revelam as desigualdades raciais na educação brasileira
Nossa metodologia combina rigor científico com sensibilidade social, criando uma cartografia que revela as múltiplas vulnerabilidades da juventude negra no Brasil
Mapeamento que vai além dos números, revelando histórias e contextos
Compreensão das opressões que afetam jovens negros
Transformação de estatísticas em histórias que mobilizam ação
Mapeamento que vai além dos números, revelando histórias e contextos
O foco nesta etapa se justifica por 3 aspectos fundamentais:
Essa etapa abriga mais da metade dos estudantes negros matriculados na escola pública.
Na adolescência, esses jovens passam por um conjunto de transformações pessoais, sociais, físicas e sociemocionais
Fonte: Censo Escolar 2024.
Os Anos Finais do Ensino Fundamental é uma etapa de transição entre os Anos Iniciais do EF e o Ensino Médio, que ocuparam uma posição de maior atenção por parte das políticas educacionais.
Então, os anos finais precisam de uma análise e investigação mais ampla e profunda, especialmente quando falamos de educação e raça.
A análise e o aprofundamento sobre o Fundamental 2 nos permite dialogar com políticas nacionais mais recentes para essa etapa de ensino e de vida dos estudantes
Escola das Adolescências
Política nacional focada nesta fase
PNEERQ
Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola
Esta é uma pergunta complexa sobre a qual não temos a pretensão de trazer uma única resposta.
Essa é uma etapa na qual os jovens estão construindo suas visões de mundo de maneira mais aprofundada e começando a vislumbrar e a elaborar os seus projetos de vida.
Assim, pensar a adolescência das pessoas negras é de fundamental importância, para refletir o quanto as desigualdades raciais podem gerar interdições aos processos de construção de suas identidades.
Os dados e as informações a seguir buscarão retratar os desafios que esses adolescentes enfrentam tanto na escola quanto na vida social.
Analisando as desigualdades educacionais através de 4 dimensões críticas
Estudantes negros apresentam desempenho significativamente inferior em avaliações padronizadas, revelando lacunas estruturais no sistema educacional.
Gap de até 30 pontos percentuais
Taxas de abandono e distorção idade-série são proporcionalmente maiores entre estudantes pretos e pardos nos Anos Finais.
2.1x maior risco de atraso
Quase 70% dos estudantes dos Anos Finais são negros, tornando essencial políticas educacionais focalizadas neste público.
68.8% são pretos ou pardos
Estudantes negros demonstram maior necessidade de conciliar trabalho e estudos, impactando suas trajetórias educacionais.
Diferenças de até 15 p.p.
Os dados não mentem: precisamos de políticas educacionais antirracistas estruturantes e efetivas para transformar essa realidade.
Explore os dados do SAEB e entenda como as desigualdades se manifestam na trajetória de adolescentes negros nos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Procuramos observar como os estudantes chegam e saem dos Anos Finais do Ensino Fundamental, levando em consideração os dados do SAEB no 5º ano (o último dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental) e no 9º ano (o último dos Anos Finais)
Mostraremos algumas visões de série histórica para que possamos identificar como as desigualdades se manifestam ao longo dos anos e possibilidades de intervenção para transformação de realidades
Carregando dados do SAEB...
Se fôssemos posicionar os estudantes do 9º ano proporcionalmente, de acordo com as suas informações de raça/cor o número de estudantes com registros no SAEB em 1000 assentos, iríamos observar um movimento interessante ao longo dos anos. Não só houve uma queda constante nos registros nulos e em branco (sem informação), como há uma tendência expressiva de aumento na autodeclaração de estudantes pretos e pardos.
Por outro lado, 2021 representou uma quebra na tendência de crescimento da parcela de estudantes com alguma autodeclaração racial. Isso, provavelmente, se deu pela situação de total caos na educação pública causada pela pandemia.
Quando trata-se da quantidade absoluta de estudantes, destacam-se dois movimentos.
Primeiro, a queda vertiginosa de estudantes que responderam o questionário preferindo não declarar sua raça/cor entre 2021 e 2023.
Também é perceptível o esforço para não perder as informações acerca da raça/cor dos estudantes com respostas nulas ou em branco. Novamente, a queda na quantidade de registros sem informação racial é interrompida em 2021, porém volta a se manifestar em 2023.
Ordenando o desempenho dos estudantes por raça/cor, um padrão sempre se repete: uma maior parcela dos estudantes brancos que possuem aprendizado adequado em comparação com os outros estratos, enquanto estudantes pretos e indígenas sempre figuram nas últimas posições
Adicionando a informação do tamanho da diferença entre as diferentes raças/cores, vemos que as desigualdades se mantêm, mesmo que os resultados apresentem uma tímida tendência de melhora.
Em língua portuguesa o padrão é o mesmo, apesar de algumas variações nas posições: estudantes brancos sempre à frente na série histórica, enquanto pretos e indígenas revezam as últimas colocações
Novamente, as desigualdades têm se mantido e até aumentado em alguns casos, apesar do resultado, em geral, ser melhor para língua portuguesa do que matemática. Isso faz questionar para quem a melhoria global dos indicadores está servindo.
Houve um pico de registros de reprovações em 2015 e 2017, o que destoa dos outros anos. Portanto a análise deve ser cuidadosa quanto a esse período.
As reprovações, para estudantes pretos e pardos, são frequentemente maiores, proporcionalmente, do que a sua representação na população. O oposto ocorre com estudantes brancos, o que sugere que essas diferenças não sejam meramente aleatórias.
O histórico de reprovação é importantíssimo para o desempenho dos estudantes. Excetuando 2015 e 2017, há um “degrau” que separa os resultados em língua portuguesa. Segundo pretos e pardos mais afetados pelas reprovações do que brancos, esse é um ponto bastante relevante para redução das desigualdades.
O mesmo se observa para matemática. Enquanto o desempenho para os que já reprovaram está abaixo dos 10% na maior parte da série, aqueles que nunca tiveram uma reprovação estão em melhor condição.
Análise das taxas de aprovação nos anos finais do ensino fundamental, revelando disparidades entre estudantes brancos e negros nas redes pública e privada.
Diferença entre maior e menor taxa
Menor disparidade, mas ainda presente
Estudantes nos anos finais
Taxa de aprovação por grupo racial
Taxa de aprovação por grupo racial
Os dados revelam que, mesmo com taxas de aprovação relativamente altas, persistem disparidades raciais significativas, especialmente na rede pública. Isso indica a necessidade de políticas educacionais focalizadas que abordem as barreiras específicas enfrentadas por estudantes negros.
Análise do abandono por rede e raça
Embora as taxas de abandono sejam relativamente baixas em ambas as redes, a disparidade racial persiste: estudantes pretos e pardos têm taxas de abandono 50% maiores que estudantes brancos na rede pública.
Fonte: Censo Escolar/INEP, 2024 (ano base 2023)
Principais indicadores que revelam a urgência de políticas educacionais antirracistas
Apenas 3 em cada 10 estudantes pretos atingem o nível adequado em Matemática no 9º ano
Fonte: SAEB 2021
Quase 7 em cada 10 estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental são pretos ou pardos
Fonte: Censo Escolar 2024
Estudantes negros têm mais do que o dobro de chance de estar atrasados na escola
Fonte: INEP 2023
Esses números não são apenas estatísticas — eles representam milhões de adolescentes negros cujas trajetórias educacionais são marcadas por desigualdades estruturais.
Cada ano sem políticas efetivas aprofunda as desigualdades e limita o potencial de uma geração inteira.
É responsabilidade de gestores, educadores e toda a sociedade criar condições para que todos os estudantes tenham as mesmas oportunidades.
Como as desigualdades raciais se manifestam na violência
Ao menos 4 a cada 5 adolescentes brasileiros vítimas de MVI, em 2024, eram negros.
Em 2023, apesar de as taxas de homicídios terem alcançado seu mínimo histórico na série analisada (2016 a 2023), o risco relativo de um jovem preto ou pardo ser assassinado era:
Este valor é mais elevado que o início da série em 2016, quando a razão era de 2,7x
A maioria das vítimas de violência que se autodeclaram dissidentes de sexualidade estava na faixa etária de 10 a 29 anos. A maior parte das vítimas dissidentes de gênero era negra:
Refletindo uma sobreposição de vulnerabilidades
Há uma diferença de perspectiva de futuro dos estudantes em relação à raça
Ensino Fundamental
💡 Estudantes negros já pensam em trabalhar cedo
Ensino Fundamental
💡 Brancos têm mais condições de focar só nos estudos
Ensino Médio
💡 A necessidade de trabalhar aumenta no EM
Ensino Médio
⚠️ Disparidade drástica: 2.3x menos estudantes pretos
A diferença nas perspectivas de futuro revela como as desigualdades socioeconômicas impactam os planos dos estudantes negros, que precisam trabalhar mais cedo e têm menos condições de se dedicar exclusivamente aos estudos.
Análise do risco de mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos (2022-2023)
Causas externas incluem acidentes e violências (homicídios e suicídios)
Jovens negros têm quase o dobro de risco
O risco de mortalidade de jovens negros (227,5/100 mil) é 92,6% maior que o de jovens brancos (118,1/100 mil)
Quase 3 em cada 4 mortes de jovens por causas externas no Brasil são de pessoas negras, evidenciando a grave desigualdade racial na exposição à violência e aos acidentes
A violência e os acidentes que vitimam desproporcionalmente jovens negros afetam profundamente suas trajetórias educacionais. O medo da violência, a perda de colegas e familiares, e a exposição a ambientes inseguros comprometem o desempenho escolar e a permanência na escola, criando um ciclo de vulnerabilidades que se reforçam mutuamente.
A redução dessas desigualdades exige políticas públicas integradas que articulem segurança, saúde, educação e desenvolvimento social, com foco específico na proteção da juventude negra.
Fonte: Agência Jovem Fiocruz (AJF), Informe 1: Violências e acidentes, 2025
Demanda por educação em direitos e combate à discriminação nas escolas públicas (2023)
22% maior demanda em escolas com maioria de estudantes negros
Instituições de ensino com alta concentração de alunos negros, população particularmente mais exposta à discriminação, registram uma demanda significativamente maior pela inclusão curricular de direitos humanos e de métodos para combater o preconceito.
Estudantes negros enfrentam diariamente situações de discriminação e preconceito, tornando essencial a educação sobre direitos e combate ao racismo
A maior demanda reflete a consciência dos estudantes sobre a necessidade de ferramentas para enfrentar o racismo estrutural
Essa diferença evidencia como a experiência vivida molda as demandas educacionais dos estudantes
A voz dos estudantes é clara: há uma demanda por educação que os prepare para identificar, compreender e combater o racismo e a discriminação. As escolas precisam responder a esse chamado, incorporando de forma sistemática e estruturada a educação em direitos humanos e o ensino sobre relações étnico-raciais.
Políticas públicas devem ser construídas em diálogo com as demandas dos próprios estudantes, especialmente aqueles mais vulnerabilizados pelo racismo
Fonte: Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas – Ministério da Educação (MEC), Relatório Nacional, 2025
Dados sobre trabalho infantil revelam mais uma dimensão da desigualdade racial que afeta a trajetória educacional
Duas em cada três crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no Brasil são negros ou pardos
Crianças e adolescentes pretos ou pardos têm 33% mais chances de estar em situação de trabalho infantil
O trabalho infantil compromete o desempenho escolar e aumenta as taxas de abandono e reprovação
O trabalho infantil é um dos principais fatores que contribuem para o baixo desempenho escolar, a distorção idade-série e o abandono da escola. A sobreposição entre trabalho infantil e desigualdade racial evidencia como múltiplas vulnerabilidades afetam a trajetória educacional de crianças e adolescentes negros.
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Trabalho de Adolescentes e Crianças, IBGE, 2024
Uma jornada através dos marcos históricos que moldaram o cenário atual da educação para jovens negros no Brasil.
Lei 12.711 estabelece reserva de vagas em universidades federais para estudantes de escolas públicas, com recorte racial.
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa busca garantir alfabetização até os 8 anos.
Plano Nacional de Educação estabelece metas para redução das desigualdades educacionais.
Recessão econômica e aprovação da EC 95 (Teto de Gastos) impactam investimentos em educação.
Crescimento significativo nos índices de mortalidade juvenil, especialmente entre jovens negros.
Avaliação nacional evidencia grandes diferenças de desempenho entre estudantes brancos e negros.
Fechamento das escolas e ensino remoto amplificam desigualdades educacionais existentes.
SAEB 2021 mostra piora generalizada no desempenho, com maior impacto em estudantes negros.
Crescimento de movimentos sociais e organizações focadas na equidade racial na educação.
Aprovação de políticas específicas para redução das desigualdades raciais na educação básica.
que identificamos e a necessidade de dar os próximos passos
A importância de políticas sistêmicas e polissêmicas de modo que a educação antirracista esteja integrada às políticas educacionais para que possam mitigar e resolver os desafios quanto à desigualdade identificadas aqui.
O tipo de identificação aqui precisa primeiramente gerar o interesse de redes de ensino e decisores políticos em identificar esses e outros desafios que prejudicam a trajetória dos estudantes em seus territórios.
O Mapa de Dados apoia o necessário processo de identificar e olhar para os desafios de maneira complexa e mais aprofundada.
Importante que as políticas sejam sistêmicas e polissêmicas porque o desafio também se manifesta dessa forma.
O Mapa de Dados é uma ferramenta em transformação. Para que ela siga cumprindo seu potencial, convidamos pessoas e organizações para nos ajudar a qualificá-la cada vez mais. Como isso pode ser feito?
Compartilhando conosco dados que produzem ou sugerindo outros que devem ser incorporados ao Mapa.
Compartilhando conosco análise ou publicações que venham a fazer tendo o Mapa de Dados como referência.
Sugerindo análises e melhorias.
Apoiando, com recursos financeiros, os esforços técnicos para que o Mapa seja sempre atualizado e qualificado.
institutodacor.ong.br
Alexandre Dantas
Danilo Vitorino de Arruda
Gabriely Araujo
Ana Carolina Ribeiro e Rafael Caceres
Ingrid Yoshida
May Solimar
Alexandre Dantas, Helton Souto e Vidal Dias da Mota Jr.